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terça-feira, 8 de agosto de 2017

SHOW com Música mecânica... ė Flamenco? parte II

Em 27 de dezembro de 2012 estreiei meu blog com o mesmo título deste artigo (http://flamencoymoda.blogspot.com.br/2012/12/)
para questionar o que ouvi demais: que eu não conhecia e nem fazia flamenco porque abusava das músicas gravadas. Lá neste artigo deixei claro da possibilidade.



Cabe agora explicar mais detalhadamente como isso se procede. Qualquer dança é possível coreografar sim com músicas mecânicas. Se faz necessário primeiro ter a devida bagagem cultural, técnica, didática e sensibilidade suficiente para tal. E isto somente o tempo dedicado lhe trará.



Antes de coreografar, somos alunos e alguns seguem mais tarde o caminho como professores. Ser professor é ter um mínimo suficiente para ensinar. O que acontece no vasto e disponível mercado é a proliferação de professores mal formados ou mesmo sem formação alguma (autodidatas) trabalhando com seus achismos e estilismos. Este assunto já desgastei em várias críticas em meu blog ao longo destes 5 anos de existência.

Com respeito e admiração que merecem, os músicos, diga-se cantaores e guitarristas que são a base para nosso trabalho com a dança, também são profissionais que ganham com sua arte e, assim como os professores de dança, também tem seu custo. Então muitas vezes a distância e a quantidade de alunos são fatores que vibializam ou não o uso destes maravilhosos parceiros na arte flamenca (tanto nas aulas como na construção de um show). Na inviabilização deles recaimos nas músicas mecânicas.

Mas como saber escolher a música gravada para dançar? Bom, aí entra o conhecimento de quem estuda e somou durante os anos aquilo que necessita o processo coreográfico: somatório de movimentos, sensibilidade musical (harmonia), estrutura de baile e entendimento da letra cantada além de respeitar o nível de absorção e prática do grupo a ser coreografado. E cabe mencionar que muitas vezes a própria letra acaba sugerindo, inclusive, a composição do figurino que muitos pecam na escolha das cores e dos modelos. A roupa é a casca que irá ajudar ou comprometer o entendimento do baile assim como a luz do palco. Também já desgastei este assunto quando apenas o gosto pessoal de um coreógrafo vale como modelo de figurino ou mesmo quando seu acordo com grifes pelos modelos que vendem não tem estudo algum para aquele baile... mesmo que sejam lindos e maravilhosos.



Quase todas as músicas mecânicas foram feitas para realçar e dar valor ao canto e à música e quase não se tem espaço para o baile flamenco, como conhecemos, com o uso da música mecânica. Por quê? A resposta se encontra na estrutura do baile que é de domínio (ou deveria ser) de quem coreografa, toca e canta. Existe uma parte determinada para se fazer uma ou, no mínimo, duas sequências de sapateado (escobillas) e boa parte dos palos bailáveis possuem a "subida de ritmo" e o seu respectivo "macho". E estes elementos raramente são encontrados nas músicas gravadas ou tem apenas aquele "respiro" com dois ou três compassos característico do palo em questão para continuar nas próximas letras; salvo quando se contrata músicos e se grava com eles aquilo que foi concebido para ter estes elementos. A série "Solo Compás" vendido  com variados artistas e com praticamente quase tudo que se tem para a dança é uma saída interessante, porém limitadíssima para se coreografar embora possua todos estes elementos. É uma série dedicada ao estudo e compreensão dos elementos da estrutura de baile, mas que jamais sairá do mesmo repertório musical; o que pode criar vícios. Eu os uso mas com moderação. Tem que ter muita arte, muito conhecimento e muita criatividade para lidar e coreogragar o oferecido nestes materiais.

E o que mais pega é a harmonia na hora do sapateado. Não basta colocar seu sapateado certinho no compasso. Este é um limitador na hora da criação se quem o faz desconhece a conjunção do "compasso", dos "sapateados" e das possibilidades harmônicas entre estes dois elementos e a música gravada. E ensinar esta harmonia ao aprendiz é muito difícil porém um exercício a sensibilidade.

Quando se trabalha com música ao vivo, a sensibilidade aliada ao conhecimento do guitarrista, ele criará harmonicamente uma melodia para seu trecho de sapateado para dar a ele a devida importância que tem no baile. É um dos momentos mágicos na dança!

Aliás, cabe mencionar que o processo coreográfico com a música ao vivo (entenda-se o guitarrista e o cantaor) é um processo coletivo e os três trabalham juntos, em parceria. Não é unidirecional comandado pelo coreógrafo. Por esta razão é que quem dança, toca e canta CONHECEM a estrutura dos bailes e podem conversar, discutir e chegarem a um resultado muito eficaz para dar o "tom" completo a coreografia toda.

Então coreografar com música gravada exige estes elementos dominados para que, ao escutar aquela música mecânica, se possa decodificar e identificar a regularidade do compasso para dançar, as letras com seus cortes, remates, falsetas quando existentes, espaço para se taconear de forma expressiva (ou não) e o mais difícil ainda que é a subida de ritmo e seu respectivo "macho" quando existente.



E quando faltam algumas destas partes? Como se faz? Aí entra o conhecimento disso tudo mais a arte de interpretar exatamente aquilo que a música mecânica quer mostrar. E isso não tem receita. É pura experiência do tempo como aluno (sou eterno aprendiz) aliado ao bom senso à sensibilidade e o nível do grupo coreografado para se ter o resultado esperado. Coreografar para si mesmo nunca será o mesmo que coreografar para os outros, mesmo que leve sua assinatura. E a coreografia tem que ter dinâmica para não ficar monótona.

Então dá sim para fazer um trabalho flamenco. Mas lembre-se que jamais terá o mesmo teor que a música ao vivo, porém respeitando os ditames do processo coreográfico será sim um trabalho autêntico e um verdadeiro laboratório que explorará seus conhecimentos para não cair no ridículo e nem na estilização ainda esteriotipada que só engana a quem não tem a mínima noção do que seja mesmo o flamenco.



Imagine então associada aos mordenismos(eu gosto moderadamente) que se tem hoje. Só quem conhece, identifica.

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