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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O Desabafo de minha mãe

Escrito em 21 NOV 2015

Palavras de Sonia Maria de Lima Samel
  
A minha mãe  teve 20 filhos onde 15 nasceram em casa e os outros 5 que nasceram no hospital,  morreram. O último  deles, minha mãe  estava no sétimo  mês quando levou um tombo e foi parar no hospital por conta das dores. Foi tratada apenas com compressas quentes durante uma semana, pois os médicos  diziam que ela não  estava grávida. Preferiu ir pra casa e chamou a parteira que retirou a criança  aos pedaços.
Sou nordestina e passei muita fome e cheguei a comer cascas de frutas do lixo.
Aos 8 anos fui trabalhar em casa de família. As patroas diziam ao meu pai que me colocariam numa escola. Era o que mais queria, mas não  acontecia e então  eu fugia.
Vi minha mãe  chorar muitas vezes porque não  tinha nada para dar de comer aos filhos. Quando chovia,  brotava na terra uma planta chamada "bredo" e outra "berduega" que eram comidas de gado. Mas minha mãe  catava e dava para a gente comer.
Por quê  falo isso? Por causa destes políticos  que vivem as nossas custas. Eles não  sabem o que é  isso. Em vez de roubarem nosso dinheiro, por quê  não  reduzem seus salários? Tem vagabundos que entram na política  porque é fácil  roubar e enganar o povo. Darei um exemplo: estive no hospital há  alguns anos com um de meus filhos por conta de fortes dores que ele sentia e precisou ficar em observação. O médico  que o internou foi embora. Outra senhora estava também  lá  com seu filho e pediu que o médico dele desse uma olhada no meu filho. Prometeu fazê -lo e só  apareceu no outro dia. Este médico  era candidato a deputado e cobrei dele o que havia me prometido. Me respondeu que candidato bom é  aquele que promete e não  cumpre. Então respondi "foi muito bom o senhor me dizer isso". Ao sair do hospital fiz campanha contra ele nas lojas. Contei como fui tratada e de sua resposta. Não  ganhou nenhuma eleição. Vagabundo não  é  quem não  trabalha, mas é  aquele que leva uma vida boa sem querer saber se alguém  precisa dele ou não. Este sujeito safado é  médico!
DESABAFO parte II
Já se ouviu muito por aí  que "aqui se faz e aqui se paga". Sempre ouvi falar que somos todos iguais, mas ninguém  nunca leva a sério.  Mas tenho visto  que não  importa o que pensem porque se paga mesmo. Custe o tempo que custar, sempre se paga. Só  debaixo da terra somos todos  iguais. Mesmo tendo todo o dinheiro do mundo, para onde se vai nada poderá  comprar. Seu dinheiro fica aqui entre os vivos!
Na última  casa que trabalhei a patroa falou que viria uma pessoa jantar e que eu não  deveria dirigir a palavra a ele para nada. Ele não  permitiria que uma pessoa "inferior" se dirigisse a ele. Eu trabalhava nessa casa com meu filho que nem sabia falar. O sujeito perguntava a meu filho qual era o nome dele... Por várias vezes! Então  respondi. O cara me fulminou com seu olhar.
Já  tinha minha casa. Depois de 3 anos trabalhando, liguei para a patroa e disse sobre minha conquista. Fui elogiada, mas recebi um comentário  terrível  dela. "Você  acha que um universitário vai querer assumir que é  pai de uma criança  filho de doméstica?"
Sobre o tal sujeito que não falava com pobres, soube que morreu no hospital público  exatamente onde fui operada. Por isso digo que "em baixo da terra somos todos iguais".
Caráter  e respeito são  formados em casa. Na escola se aprende cultura, ler e escrever. E isso aprendi sozinha com vontade. Perto de minha casa tinha uma escola. Todos os dias eu subia numa pedra que tinha no muro e pensava "um dia vou estudar  nessa escola". Só  fiquei 2 meses, mas foi o suficiente pra desenvolver minha vontade.
Sempre ouvi falar que o trabalho dignifica o homem. Conheço  gente que não  trabalha porque já  nasceram ricos e muitos nem herdeiros tem. Onde fica a dignidade destes homens? Por quê  não  trabalham pra tirar esse país  do fundo do poço?
Hoje tenho 75 anos e fui vítima  de 2 cânceres  que consegui vencer. Tenho sequelas advindas deles, mas minha vontade de viver e vencer sempre foram minha meta.  Não é  porque sou  humilde e pobre que me entregarei e serei derrotada pelas coisas ruins que a vida  e estas pessoas ruins fazem com gente como eu.
Sou honesta  e digna sim! Orgulhosa por ser batalhadora e ter dado caráter, honra e dignidade aos meus filhos da maneira que pude e como nunca havia recebido. Apenas aprendi a ser assim seguindo os passos de minha mãe,  Marcolina de Lima e Silva que, sem nada na vida, deu seu melhor para todos os filhos. Ela não  se prostituiu, não  deu e nem jogou nenhum  filho no lixo e sequer tive irmãos  bandidos, apesar da vida sofrida de nós  nordestinos.

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